terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Um mergulho ao passado no interior do Estado do Rio de Janeiro!

          Eu havia lançado, em postagem anterior, a tese de que viajar significava lançar-se em busca de algo. Seja quem for, e com o objetivo que for, viajar sempre resulta em uma busca. Revendo um artigo da revista “Bons Fluidos”, de março de 2003, de Ana Cristina Gonçalves, onde relata a experiência de algumas pessoas que partem em viagem em busca de suas origens e do contato com a cultura de seus ancestrais, esta convicção é reforçada. Como afirma no texto, Irene Cardotti, psicoterapeuta de São Paulo, “viajar é um movimento voltado para fora, para a descoberta do mundo... mas pode também significar um mergulho interno, um reencontro consigo mesmo”.
          Foi com esse pensamento que aproveitei o feriado do carnaval e a visita de parentes, e programei um passeio à Quissamã, município vizinho à Macaé. Minha mãe nasceu na região, no município de Carapebus, apesar de ter sido criada no interior do Estado, em São Vicente. De qualquer maneira, a história da ocupação da região remonta à época colonial, e nos permite conhecer muito sobre a própria colonização do Brasil, nosso país.
          Aproveitando a disponibilidade de Nilza Viana, guia de turismo credenciada para fazer o receptivo na cidade de Quissamã, partimos em busca da história local. Quissamã concentra o maior número de fazendas da época áurea do ciclo da cana-de-açúcar, e sete casarões estão disponíveis à visitação. Infelizmente, por causa do pouco tempo e da falta de agendamento prévio, não pudemos conhecer todos os casarões e suas atrações nesta visita. Mas, o pouco do que vimos nos instigou a voltarmos, principalmente por causa das interrogações que esta visita nos despertou. Gostaria de partilhar com vocês as minhas impressões, que faço a partir de agora.
          A primeira visita que quero ressaltar é a que fizemos no sobradinho, centro cultural cravado no centro da cidade, de fácil acesso e voltado para a comunidade. O Prédio que abrigou o primeiro cartório de Quissamã está belamente restaurado, e em seu entorno, novos blocos arquitetônicos foram erguidos para servir de suporte a uma gama de serviços culturais para a população, todos construídos de acordo com a arquitetura do antigo sobradinho. Possui salas de música e artes, lanchonete, uma réplica da estação ferroviária que atendia a cidade, e uma bem estruturada sala de cinema que atende à população gratuitamente. Só resta saber se é possível ser exibido filmes menos comerciais, fora do circuito das grandes distribuidoras. Hoje existe uma crescente produção audiovisual independente no Brasil, digna de ser vista, cujas salas comerciais não poderiam dar conta de exibir. No prédio original encontramos dentre outras coisas, uma biblioteca com 15 mil volumes, ponto obrigatório para pesquisas, tanto por parte do público escolar como por parte de pesquisadores. Tive a chance de, em outras ocasiões, visitar o local em dia de semana, e pude ver como a população, principalmente os estudantes, se apodera do espaço, usando-o de maneira intensa e com propriedade. É sem dúvida nenhuma, um espaço nitidamente da comunidade. Gostaria de agradecer ao Jonas pela apresentação do espaço ao nosso grupo.
          O segundo espaço que gostaria de comentar é o complexo arquitetônico de Machadinha. Cuidadosamente preservado, faltando somente a restauração da Casa Grande – que Nilza nos informou estar prevista para este ano de 2010 – é possível conhecer toda a estrutura de uma fazenda do ciclo da cana-de-açúcar, que como Gilberto Freire falou, representou o modelo estrutural para os diferentes ciclos econômicos ocorridos no Brasil, como as fazendas de cacau e de café. Visualizando a capela, a Casa Grande, as senzalas – com os descendentes morando hoje no local – e as outras dependências, tudo isso isolado do centro urbano, é possível entender melhor a dinâmica da vida naqueles tempos. Realmente, uma visita altamente recomendável para qualquer cidadão brasileiro se sentir mais brasileiro. É possível também visitar no local o Memorial Machadinha, montado em um dos prédios do conjunto de senzalas. Ali é possível conferir um trabalho de resgate cultural de grande importância e extrema qualidade, da relação entre os escravos negros de Machadinha e região com Angola, país do continente africano de onde os negros que viveram no local são descendentes.  Infelizmente, como havia falado antes, pela falta de tempo e agendamento não pudemos apreciar o Jongo e o Fado, danças típicas dos escravos, tampouco degustar a culinária “Raízes do Sabor”, que resgata receitas das senzalas no século XIX. De qualquer maneira, Machadinha é uma visita obrigatória, pelo seu impressionante conjunto arquitetônico e pela sua importância histórica para o Brasil e a região.
          Por último, gostaria de falar sobre a maravilhosa impressão que tivemos ao visitar o Museu Casa Quissamã, antiga moradia de José Carneiro da Silva, o Visconde de Araruama. Apesar de não apresentar todo o complexo arquitetônico da época, como Machadinha, o corpo principal da Casa Grande está belamente restaurado, inclusive com as mobílias, e um conjunto de obras de arte de alto valor cultural que nos proporcionou grandes descobertas. Recebidos por Gustavo, diretor da casa, que nos fez a gentileza de ser nosso esplêndido guia pelo museu, passamos momentos de grande prazer nesse espetáculo de atrativo. Extremamente recomendável!
          Muito ainda temos para conhecer em Quissamã. Por isso, outras visitas faremos ao local. Mas a visita feita por nós neste último domingo já foi o bastante para instigar perguntas e atiçar nossa curiosidade acerca de fatos da história da região. Desde já tenho me debruçado em busca de informações que esta visita me chamou à curiosidade. Por isso, retornarei em outras postagens a esse assunto. Acompanhe-nos e participe!  Por hora, gostaria de agradecer ao Gustavo, Diretor do Museu Casa Quissamã pela impecável recepção. À Nilza (quissa01@terra.com.br), gostaria de agradecer a acolhida e ressaltar seu profissionalismo. Para aqueles que querem mais informações acesse o site da Prefeitura de Quissamã (www.quissama.rj.gov.br), mas não deixem de visitar a cidade. Confira as fotos! Vale a pena!